quinta-feira, 11 de junho de 2009

Uma certa feira

Uma certa feira

Escrevo porque descobri, hoje, haver pensado que o meu cavalo só falava inglês.
Agora sei falar inglês, e parece que ele só fala alemão!
Esta semana, ao chegar em Lajedo para pernoitar, durante o encontro da família em Fazenda Nova, o reduto histórico do nosso núcleo familiar, tive uma das experiências mais estranhas de minha vida.
O hotel fica exatamente na cabeça da rua, ao lado da igreja matriz, vizinho à antiga loja do tio Zé.
Pensei:
e é aqui que vou dormir, é?

Fixei os olhos em um pedaço de chão, transformei-o em palco.
Conduzi cenários e pessoas àquele retângulo, pois dominar a cena, trazer a vida para aquele lugar, tornou-se metodologia de sobrevivência, da mesma forma que havia acontecido há muito tempo atrás.
Se antes o embate era com os fregueses para que levassem a mercadoria, agora era comigo mesma. E eu não podia perder!
Naquele pedaço de calçamento, nos dias de feira na cidade, eu colocava uma barraca para vender roupinhas de bebê, tecidas em tricô, por mim e por minha mãe. Eram casacos, toucas e sapatinhos preciosos.
A barraquinha, também carroça, era maravilhosa.! Sempre me orgulhei dela! Pensava: ninguém mais tem uma tão linda! Servia, inclusive, para carregar as mercadorias todas guardadas em seu interior, e, sempre, um ajudante disponível a levava de ida e volta – “tarefa de homem!”.
A noite transformou-se numa tempestade cerebral.
Tudo veio em um galope rápido e perturbador. Um trotear constante e preciso. Os acontecimentos desfilaram naquela madrugada insone, como sequências de tomadas cinematográficas, ali, incrivelmente enquadradas:
Os dias no Ginásio Industrial, missas, vaquejadas, e o programa da rádio dos alunos da quinta-série, que fazia como locutora/pesquisadora, e a feira, onde também comprava as revistas de fotonovelas, usadas pelos feirantes para embrulhar as mercadorias.
Eu chegava muito cedo, corria para comprar as melhores revistas e as coloridas, ainda não lidas por mim. Revendia-as após ler, ganhando uma graninha, usada, inclusive, para compra de materiais dos festejos em nossos aniversários, onde sempre tínhamos bolo e guaraná. Festejávamos nove por ano!
Acredito ter aprendido, nesse momento da vida, economia e planejamento financeiro.
... Como divertimento, colecionava retratos de artistas.
A parede de meu quarto, repleta de Jerry Adrianes, Robertos, Erasmos, e da turma de Hollywood era puro sonho.

Aos sábados, vendia praticamente tudo que conseguíamos produzir. À tardinha minha mãe vinha para a feira. Comprávamos alguma comida que durava por vários dias.

Reviver tudo isso significa poder observar a vida partindo de outros paradigmas.
E, se hoje sei que o meu cavalo não fala inglês, é hora de aprender outro idioma.

Eliane Velozo
Belo Horizonte, 24 de abril de 2009.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Projeto Sonho Branco-

Projeto Sonho Branco
Vem se desenvolvendo desde 2004.
É composto de fotografias de plantações e plantadores de algodao
em Oliveira/MG/Brasil, Chapadão do Sul/MS/Brasil,
Slaton/Texas/EUA e Togo/África.















Avé, Avé, Maria

Avé, avé, Maria!!


Acordo “balançada” pelo apelo de um dia internacional da mulher.
Perturbada pelos fatos ocorridos, esta semana, em nossa “civilizada” sociedade, onde um monstro, que convivia diariamente com uma pequena de nove anos de idade, filha de sua companheira, a engravida, eu levanto da cama e me valho das letras, juntando-as, para tentar expressar o indizível.

Não dá pra categorizar um sujeito desses como animal, pois seria uma grande ofensa a tantos bichinhos maravilhosos que habitam o planeta terra.
Dá, sim, para nos fazermos algumas perguntas que talvez nunca terão respostas:
Como pode um homem(?) ter esse tipo de tesão sexual?
Como pode ele, não ter o mínimo de respeito por uma criança?
Como pode uma criança de nove anos de idade engravidar?
E aqui cabe outra pergunta: do que estamos nos alimentando?

Eu menstruei pela primeira vez aos quinze anos de idade, e ainda brincava de bonecas!!!
Sortuda eu!!!!!! Certamente não ingeria a quantidade de hormônios e produtos químicos que ingerimos hoje. E não nos alimentávamos de tantas barbaridades que entram em nossos lares, todos os dias, pelos meios de comunicação de massa.

Em nosso país, se tenta “proibir” o trabalho infantil... o que se faz sobre a procriação infantil, vinda de atos como este?
O cara vai pra cadeia? Isso é tudo?
Com que finalidade?
Até quando?

Como se não bastasse a queda, o coice.
Sinto-me montada em um cavalo selvagem, em disparada, sem rumo.

A “Santíssima Igreja Católica Apostólica Romana”, seguida por milhões de brasileiros e brasileiras, declara publicamente a excomunhão de todos os envolvidos no aborto de gêmeos, “autorizado” pela mãe da menininha, e praticado por uma equipe de médicos do Recife.
Pior mesmo é “ouvir” o arcebispo de Recife e Olinda, declarar, em bom tom, que o estupro é um pecado passível de perdão (a famosa mecânica da culpa/arrependimento/perdão) e o aborto, mesmo nesse caso, onde a ciência declara a impossibilidade física da menininha sair com vida dessa gravidez, é irremediavelmente punido com a excomunhão da mãe, do médico, e de toda a equipe envolvida no aborto dos gêmeos de quatro meses, que eram esperados.
Isso se baseia, argumenta o religioso, no preceito do “não matarás”.
Esses, todos ao inferno!!!!

A psicologia e a psiquiatria já foram “inventadas”????
Quem matou quem?
Onde é mesmo o inferno?

É incrível a inversão dos valores!
É visível que essa igreja não está no sexo feminino. Tão pouco a excomunhão.

Que dureza se comemorar este dia Internacional da mulher...
Quando começaremos a gerar dias internacionais de mulher?
Quem sabe escrevendo a história da humanidade no feminino, poderíamos estar um pouco melhores como raça HUMANA...

Oxalá nos salve!!!

Eliane Velozo
Belo Horizonte, 08.03.2009

Carnaval 2009

Carnaval 2009

Parece que, finalmente, o ano vai começando...
começando...
começando...
já que somente começamos após o carnaval e esta é a primeira segunda-feira do ano!

Como sempre, estou indo e vindo.

Acabo de chegar de meu feriadão carnavalesco que durou uma semana inteira, de sábado a sábado, em São Gonçalo do Rio Preto/MG.

Adorei!

O Parque Estadual do Rio Preto é assim chamado porque o rio que lá tem suas nascentes é de leito muito escuro.

A cidade, é um “reduto” de comunidades negras, que, de alguma forma, não falam do período escravocrata.
Nela as casinhas são todas coloridas.
Lindas!!!

A principal cachoeira do Parque Estadual do Rio Preto tem o nome de “cachoeira do crioulo” e abriga, escondido sob suas águas, entre as pedras um enorme salão onde poderiam “viver” até uma centena de pessoas. (parece ter sido um quilombo, mas ninguém fala sobre isso - história escondida?)

Conheci mulheres maravilhosas, de corações refinados, comida gostosa, boas falas e muito carinho para com os visitantes.

No carnaval, praticamente se ouve somente “músicas” de apelos ao consumo de bebidas alcoólicas (tipo: “beber, cair levantar” e beber de novo)... e à sacanagem sexual, mas na cidade temos a vantagem de ser proibido som “automotivo” (que inferniza a maior parte das cidades brasileiras).

Eu curti bastante.
Fiz fotos e caminhadas, tomei banhos de rio e de cachoeiras.

Na viagem de volta, prestei muita atenção ao passar pelos rios: Preto, Manso, Jequitinhonha, Baraúna e das Velhas, além de vários córregos e ribeirões que encheram de prazer meus olhos e coração.

Agora, RE-começando o ano, espero que todos tenham aproveitado o período carnavalesco.

Axé.
Eliane Velozo
Belo Horizonte, 02 de março de 2009